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Inteligência Artificial é “um ponto de partida, não de chegada”

A Inteligência Artificial e sessões de formação com os parceiros RUN-EU e IPCA preencheram esta quinta-feira, dia 25 de maio, a Semana da Economia, a decorrer no Altice Forum Braga até 26 de maio. O último dia de Mostra Empresarial encerrou com debates sobre a temática desta sexta edição "Investigação e Transferência de Tecnologia". 

O Impacto da Inteligência Artificial no Conhecimento 

As atividades do penúltimo dia da Semana da Economia arrancaram com a conferência “O Impacto da Inteligência Artificial no Conhecimento”, dinamizada pela CNN Portugal, com a abertura de Carlos Silva, administrador executivo da InvestBraga – “A Semana da Economia é um momento importante para o reconhecimento do trabalho das nossas empresas. É um espaço de debate de ideias, no qual se pensa quais os desafios que teremos de ultrapassar.” 

O painel, composto por Jorge Portugal, diretor da COTEC - Associação Empresarial para a Inovação, Carlos Oliveira, presidente executivo da Fundação José Neves, Alcino Lavrador, general manager da Altice Labs e Marco António Silva, da Microsoft, partilhou mais de duas horas de experiências e reflexões éticas sobre a aplicação da Inteligência Artificial (AI), numa troca carismática, envolvendo a audiência composta por empresários, investigadores bracarenses e alunos das escolas profissionais de Braga. 

Os oradores consideraram que a IA é uma ferramenta a ser usada, especialmente quando aplicada ao desenvolvimento das sociedades. A IA permite combinar conhecimentos, atingindo a resolução de problemas com maior eficácia e velocidade. Alcino Lavrador afirma que a aplicação destas ferramentas irá ajudar na construção de projetos, já que a ferramenta antecipa as necessidades dos clientes através de análises de comportamentos e tendências de mercado, dando também respostas às empresas em tempo real. 

Jorge Portugal refletiu sobre o salto que a IA trará à inovação e a criação de produtos com valor de mercado. “Braga é um ecossistema de conhecimento e inovação, com uma forte ligação às academias, disponíveis para criar conhecimento em sede empresarial. As empresas têm de estar mergulhadas nestes ecossistemas.”

A velocidade exponencial a que a IA está a ocupar os nossos espaços representa uma grande oportunidade e um desafio para a educação. Para Carlos Oliveira, estas tecnologias têm de ser encaradas como a máquina de calcular: “é necessário perceber a lógica por trás dos comandos que damos e, sem grande dispêndio de recursos, obtemos respostas com brevidade”. Sobre o método de ensino vigente, Jorge Portugal afirma que “estamos nos últimos dias da produção de memorização e reprodução”, ao que Carlos Oliveira acrescenta que são necessárias competências socio-emocionais. A revolução do ensino deverá voltar-se para a capacidade de raciocínio, de resolução de problemas, de liderança e de trabalho em equipa, concluiu a mesa.

Todas as profissões passarão por mudanças, desde a medicina, com ferramentas de apoio à decisão, aos advogados, a consultores, coders, até ao chão de fábrica. “O trabalho braçal e mecânico será automatizado.”. Marco António Silva entende que as necessidades das empresas estão a mudar, valorizando menos as competências técnicas dos funcionários e mais as denominadas “soft skills”. 

Questionado sobre o valor do trabalhador que usa as ferramentas de IA, Jorge Portugal expôs que “não são as ferramentas de aprendizagem automática que resolvem tudo. Elas servem para reunir uma série de informação, para depois se rever criticamente. É um ponto de partida, não de chegada”. Assim, admitem o papel relevante do ser humano nestes processos, responsável pelas entradas, filtragem dos erros, perceção das omissões e enviesamentos. 

Marco António Silva reconhece que o grande salto da IA é o uso de uma linguagem natural, diferente do uso das palavras-chave com que estávamos habituados com os motores de busca tradicionais, o que torna a interação do utilizador com a máquina mais empática. No entanto, questiona “Se só existirem palavras, haverá emoção? Ainda não estamos calibrados para interpretar a imitação da linguagem humana como simulação.” 

Um problema levantado pelo painel foi a “preguiça”, ou seja, poderá haver a tendência de o utilizador não procurar saber se há outras respostas, e, no mesmo sentido, surgir alguma relutância em se envolver na resolução de problemas complexos. Outra questão prende-se com as desigualdades no acesso à tecnologia e literacia digital, que poderão criar um grande clivo entre empresas, sociedades e pessoas. 

O Chat GPT teve, também, a oportunidade de fazer uma pergunta ao painel: “Em que medida o Chat GPT poderá polarizar as opiniões?”. Deste ponto, os oradores questionaram de que forma podemos assegurar um sistema ético: Reconhecendo a urgência de regulamentação, auditoria, monitoria e responsabilização.

O debate passou também pelas questões da propriedade intelectual, onde Carlos Oliveira destacou que “talvez no mundo para o qual estamos a caminhar a propriedade intelectual já não tenha valor. O paradigma tem vindo a mudar, talvez a partilha seja o que nos espera”. 

O secretário de estado do Ensino Superior, Pedro Nuno Teixeira, fez as honras de encerramento desta sessão, concluindo que as instituições do ensino superior têm sobrevivido ao tempo, mas que terão de se adaptar. “Tem de ser repensado o que é ensinado, como é ensinado, como é avaliado e o que é avaliado”.

Pedro Teixeira reforçou que é necessário um equilíbrio entre conhecimentos e competências, assim como o desenvolvimento do pensamento crítico.

Sublinha que o ensino superior não quer “imitar as máquinas”. Os professores e investigadores não são meros reprodutores e desempenham um papel fundamental na mudança social e na transformação das organizações. 

Regional University Network (RUN-EU) 

A Regional University Network (RUN-EU), uma rede de Instituições de Ensino Superior da qual fazem parte o Instituto Politécnico do Cávado e Ave (IPCA) e o Instituto Politécnico de Leiria, promoveram várias sessões voltadas para o público universitário e demais interessados.

Iniciou, hoje, o segundo Circular Economy Forum da RUN-EU, reunindo mais de 30 convidados internacionais dos parceiros RUN-EU e mais de 100 participantes locais para debater políticas Europeias e iniciativas regionais que alavancam o desenvolvimento e inovação. 

As principais linhas temáticas do encontro são a transformação digital e a agenda verde, que estão intrinsecamente ligadas aos três hubs de inovação da RUN-EU, nomeadamente Future & Sustainable Industries (Indústrias Futuras & Sustentáveis), Bioeconomy (Bioeconomia), e Social Inovation (Inovação Social). 

A RUN-EU tem como objetivo desenvolver programas de formação que promovam competências futuras e avançadas para a transformação social nas regiões da União Europeia. As instituições de ensino superior têm vindo a desenvolver conjuntamente uma gama diversificada de atividades de ensino e aprendizagem, proporcionando aos estudantes diferentes programas internacionais (de curta duração e e-learning), bem como implementando projetos de cooperação internacional no domínio da investigação e desenvolvimento.

Mostra Empresarial 

Já no palco da Mostra Empresarial, duas palestras debateram o tema da formação e empregabilidade.

A sessão “Aprendi muito: O que faço com isso?”, um evento da APTIV, dinamizado por Juliana Simões, talent acquisition specialist da APTIV Braga, orientou os jovens quanto à entrada no mercado de trabalho. 

Juliana Simões refletiu sobre o início de carreira, marcado pela falta de experiência, mas que não significa que não haja oportunidades. Na APTIV, mais de metade dos contratados no ano de 2022 estavam no seu primeiro emprego. Ainda, foi partilhado o que se faz essencial no processo de procura de emprego: um curriculum adaptado à vaga à qual se está a candidatar e um Linkedin atualizado. 

Seguiu-se a sessão “Como ser selecionado?”, do Grupo Casais, com as técnicas de recrutamento e seleção, Bruna Rodrigues e Marisa Dias. As dinamizadoras partilharam as principais dicas na procura de vagas, como descrever o motivo da candidatura, expor as skills, os idiomas e as palavras-chave. Destacaram também a preparação da entrevista, com uma pesquisa prévia, passando a conhecer as características mais importantes da empresa. A sessão encerrou com um momento de jogo interativo, premiando o público estudantil que assistia à apresentação. 

Este penúltimo dia da Semana da Economia concluiu-se com uma mesa-redonda, promovida pela inCentea - “Previsão Estratégica com Inteligência Artificial”- e a sessão “Smart Analytics”, por Filipe Fonseca, business unit manager da mesma empresa. O evento reuniu Carlos Vaz, administrador inCentea, Joaquim Gonçalves, Escola Superior de Tecnologia do IPCA, José Rui Gomes, presidente da Associação Portuguesa de Business Intelligence e Carlos Santos, CTO & Founder da Zome. 

A inCentea é um grupo de empresas de prestação de serviços profissionais nas áreas das Tecnologias de Informação e Comunicação, Marketing e Inovação, Consultoria de Negócio, e Engenharia de Produto, com presença em Portugal, Angola, Brasil, Cabo Verde, Espanha, França, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe, com um volume de negócios de 21 milhões de euros em 2022 e cerca de 350 colaboradores. 

A IA foi, mais uma vez, olhada de duas perspetivas: por um lado, apresenta-se como uma ferramenta de auxílio no aumento da produtividade e na criação de novas hipóteses para os negócios e, por outro, uma tecnologia da qual ainda não se sabe muito, com necessidade de regulamentação, como expôs Carlos Santos. 

Carlos Vaz acredita que a IA “está numa fase primária de expansão”, e Joaquim Gonçalves refletiu sobre as potencialidades do Chat GPT, como alavanca de crescimento, de partilha de conhecimento e de diminuição da carga laboral dos funcionários, que assim terão “mais tempo para a vida familiar e outras atividades”, promovendo uma maior conciliação. Além disso, José Gomes afirma que “as universidades e empresas têm de criar sinergias”, para que a partilha de informação e conhecimento seja mais eficaz.

O debate terminou numa reflexão sobre as mudanças em todos os setores, nomeadamente na compra e venda de casas, que poderá passar a ser inteiramente digital e quase instantânea, dada a simplificação dos processos burocráticos.